sexta-feira, 30 de abril de 2010

A eutanásia deve ser permitida em Portugal?


Pelos resultados da sondagem realizada no mês de Abril, 78% das pessoas afirmaram que a eutanásia deveria ser permitida em Portugal.


Nesse sentido, colocamos nova questão: Quais serão os argumentos por detrás dessas opiniões? Porquê legalizar a eutanásia?


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Direitos dos moribundos


(David Kessler, in The Rights of the Dying, 1997)


  • Ser tratado como um ser humano;

  • Manter a esperança, independentemente de qual for o seu foco;

  • Receber cuidados por parte daqueles que conseguem manter a esperança;

  • Expressar sentimentos e emoções acerca da morte;

  • Participar na tomada de decisões;

  • Receber cuidados por parte de pessoas compreensivas, sensíveis e com competência que tentem compreender as suas necessidades;

  • Esperar cuidados médicos contínuos, mesmo que os objectivos passem a ser os de conforto;

  • Receber respostas honestas às questões colocadas;

  • Procurar a espiritualidade;

  • Controlo da dor física;

  • Expressar sentimentos e emoções em relação à dor;

  • Direito das crianças participarem no processo de morte;

  • Direito de morrer;

  • Direito de morrer em paz e dignidade;

  • Direito a não morrer sozinho (se for esse o desejo);

  • Esperar que a santidade do corpo seja respeitada após a morte.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Insuficiência Renal Crónica e Cuidados Paliativos


Que doentes renais necessitam de cuidados paliativos?
Deve considerar-se a transferência dos doentes para cuidados paliativos quando estes atingem o estadio V da doença renal (filtração glomerular inferior a 15ml) e que:

  1. Recusam tratamento renal de substituição (hemodiálise ou transplantação);

  2. São aconselhados a não realizar tratamento de substituição (se os aspectos negativos associados à realização de diálise são superiores à probabilidade de sobrevivência ou aos benefícios em termos de qualidade de vida);

  3. Realizaram tratamentos de hemodiálise mas estão prestes a deixar de ter critérios para tal;

  4. Estão a realizar hemodiálise mas com mau prognóstico, muitas vezes devido a co-morbilidades (p.e. doença cardíaca).


    Quais são os critérios de selecção para ingresso em cuidados paliativos?
    A decisão acerca do início da realização de cuidados paliativos deve atender à avaliação global do doente incluindo a sua história clínica, estadio da doença renal (neste caso, prioritariamente a doentes com IRC de grau V) função cognitiva, emocional, social, qualidade de vida, valorização sintomática por parte do doente e co-morbilidades (i.e. doenças associadas). Para além destes aspectos, são critérios de selecção:
  • Ter mais de 70 anos;

  • Ter nefropatia diabética;

  • Ter cardiopatia isquémica ou insuficiência cardáiaca congestiva de grau II-III;

  • Ter arterioesclerose difusa com manifestações cerebrais, cardíacas ou periféricas;

  • Ter cirrose hepática com pelo menos um episódio prévio de descompensação edemo-ascítica ou periotonite bacteriana espontânea;

  • Ter alterações de humor, afectivas ou comportamentais;

  • Ter um tumor maligno incurável e/ou inoperável;

  • Quando por qualquer outro motivo o seu nefrologista possa prever dificuldades aquando do consentimento informado.


    Adaptado de Tejedor, A. & de las Cuevas Bou, X. (2008). Cuidado paliativo en el paciente con enfermedad renal crónica avanzado (grado 5) no susceptible de tratamiento dialítico. Nefrologia, Supl. 3, p. 129-136.

Burnout II


Na actualidade, atendendo ao ritmo de vida e às exigências do trabalho, torna-se difícil separar a vida familiar da profissional. A longo prazo os recursos esgotam-se e as pessoas ficam incapazes para trabalhar, recorrendo posteriormente à baixa por motivos de saúde.

Estes comportamentos são entendidos num quadro de burnout, sendo este um estado de exaustão física, emocional e mental que resulta do envolvimento intenso com pessoas, conduzindo a um progressivo sentimento de inadequação, fracasso e baixa realização profissional.

Para o desenvolvimento deste quadro clínico contribuem a ausência de suportes significativos e a fragmentação das relações, centração na quantidade e não na qualidade dos serviços e estado de activação constante (“doença da pressa”). As consequências desta situação são severas ao nível da saúde: ansiedade, alterações da concentração, perturbações do sono, irritabilidade, impaciência, incapacidade para escutar, diminuição da capacidade de trabalho (fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo, obsessão com o tempo, sentimentos crónicos de pressão temporal), humor depressivo, exaustão emocional e relações sociais empobrecidas.

Vários estudos têm demonstrado que o stress no trabalho está relacionado com a doença, e por consequência, com a menor produtividade, com o aumento do absentismo, dos acidentes de trabalho, dos erros de desempenho, invalidez, morte prematura e os problemas familiares.

Os estudos indicam que as instituições de saúde, especialmente os hospitais e os centros de saúde, constituem ambientes de trabalho stressantes, contendo características organizacionais geralmente associadas com o stress, como níveis múltiplos de autoridade, heterogeneidade do pessoal, interdependência das responsabilidades e especialização profissional. Mais se acrescenta que a responsabilidade por pessoas é geradora de maior stress do que a responsabilidade por coisas, incluindo esta a responsabilidade perante os doentes, famílias, equipa de trabalho e outros.

Perante as implicações para o bem-estar pessoal e profissional que uma síndrome de burnout implica, importa investir na prevenção. Para tal, alguns autores sugerem que se estabeleça, entre outros factores:
Comunicação eficaz que permita a ventilação dos sentimentos sem constrangimentos;
Feedback positivo, que consiste em reforçar o desempenho;
Promover a introspecção e a auto-avaliação dos níveis de stress;
Ter tempo dentro e fora do local de trabalho para si;
Ser capaz de distanciamento e diversão;
Manter uma atitude positiva e humor.

Em suma, a melhor forma de prevenção do burnout passa pelo estabelecimento de boas relações dentro de uma equipa de trabalho, onde cada um dos elementos sinta que pode confiar no outro em momentos de maior dificuldade, podendo assim obter apoio não só a nível profissional mas também emocional[1].


[1] Adaptado de Bernardo, A.; Rosado, J. & Salazar, H. (2006). Burnout e Auto-cuidados. In, A. Barbosa & I. Neto (eds.), Manual de Cuidados Paliativos. Lisboa: Núcleo de Cuidados Paliativos, Centro de Bioética, Faculdade de Medicina de Lisboa.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Medicina Geral e Familiar e Cuidados Paliativos: aliados ou rivais?


Em 2004, no V Encontro Conimbrigae Salus, a Dra. Isabel Neto, na altura pertencente à equipa de cuidados paliativos de Odivelas, argumentou que os cuidados paliativos se relacionam com os cuidados de saúde primários. Foram apresentados os seguintes motivos:

1. As doenças incuráveis (neoplasias, AVC, demências, etc) são uma realidade na prática dos Médicos de Família (MF);
2. Os cuidados paliativos não são apenas cuidados na agonia e, portanto, é também o MF que estará vocacionado para apoiar os doentes nestas situações;
3. O MF tem à partida integrado nos seus cuidados o acompanhamento da família no luto;
4. A medicina familiar corresponde ainda às necessidades dos doentes paliativos no que diz respeito à acessibilidade aos cuidados de saúde, que neste âmbito se devem concentrar no domicílio;
5. O MF pode actuar ao nível do controlo de sintomas.

In, Médico de Família, Março de 2004

No entanto pergunto: o que diferencia então um Médico de Família de um Médico numa Equipa de Cuidados Paliativos?

Na minha opinião existem pelo menos duas diferenças que importa realçar:
1. Formação;
2. Disponibilidade.

Constatamos que os cuidados paliativos assentam em quatro pilares – controlo de sintomas, comunicação adequada, apoio à família e trabalho em equipa. Qualquer uma destas áreas requer acções específicas e especializadas, sendo que estas só se obtêm através da formação e prática clínica. Não quero com isto afirmar que os nossos MF não têm formação nestas áreas. No entanto, existem muitas especificidades associadas ao fim de vida que nem sempre são convenientemente abordadas durante a formação clínica, muito devido ao ainda “tabu da morte”.
Nesse sentido, deveríamos diferenciar entre “cuidados paliativos generalistas”, aplicáveis a todos os quadros clínicos, independentemente da natureza ou estadio da doença, que qualquer MF poderá praticar desde que com formação básica, e “medicina paliativa especialista” que se centra em doentes com doença avançada, activa, progressiva e com prognóstico limitado. Neste último tipo de cuidados, os problemas do doente e da sua família são tão numerosos, graves ou difíceis de aliviar que requerem e intervenção de uma equipa especializada.
Por outro lado, os cuidados paliativos não advêm da “boa vontade”. Estou convicta que muitos dos nossos profissionais médicos desejariam prestar cuidados de maior proximidade aos seus utentes. No entanto, nem todos conseguem ter tempo disponível para realizar visitas domiciliárias aos utentes que delas necessitam, nem tão pouco estar disponíveis às 2h da manhã, quando o Sr. António tiver uma descompensação sintomática.

É por estes e muitos outros motivos que creio que a medicina geral e familiar assim como a medicina paliativa devem andar de “mãos dadas”, cada uma reconhecendo o valor e papel único da outra.

Cursos para voluntários em Cuidados Paliativos


A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (http://www.apcp.com.pt) irá organizar em 2010 dois cursos para voluntários em cuidados paliativos. Prevê-se a sua realização nas cidades de Lisboa, Porto e Santiago do Cacém.

Para Ler e Ver...

  • Amara, Como cuidar dos nossos
  • Marie de Hennezel, Arte de Morrer
  • Marie de Hennezel, Diálogos com a Morte
  • Mitch Albom, As Terças com Morrie
  • Morrie Schwartz, Amar e viver: Lições de um mestre inesquecível
  • Tsering Paldrom, Helena Atkin e Isabel Neto, A dignidade e o sentido da vida: reflexões sobre a nossa existência