Estatisticamente 50% das pessoas vão morrer com cancro e 90% morrem com doença prolongada. Para além disso, com o aumento da esperança de vida, as pessoas vão durante mais tempo enfrentar todas as consequências do envelhecimento, antecipando-se o aumento das suas necessidades. Conscientes da urgência de intervenção para o alívio do sofrimento, o Centro de Saúde de Nisa decidiu criar este espaço para que doentes e seus familiares possam colocar questões e partilhar experiências.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Tratar a dor
Os planos de intervenção no caso do tratamento da dor incluem, geralmente, técnicas farmacológicas em combinação com estratégias psicológicas e outras.
Apesar de toda a panóplia de técnicas que podem ser utilizadas, as estratégias por si só não são suficientes, já que o mais importante é a atitude e confiança do sujeito acerca da intervenção que vai determinar a sua eficácia. Daí a importância de adaptarmos o plano de intervenção às características dos pacientes. Deste modo, o primeiro passo será informar os pacientes acerca dos resultados que podem esperar com a implementação de determinado tratamento.
Assim, devemos clarificar que, o objectivo da intervenção não é a redução da intensidade da dor per se (no caso das intervenções não farmacológicas), mas sim promover o desempenho de comportamentos que facilitam a recuperação, ensinar novos métodos para lidar com o desconforto, desfiguramento e, possivelmente, com a morte, manter o sentido de valor pessoal, restaurar as relações com os outros, reconceptualizar o significado da dor e, adquirir capacidade de controlo sobre esta.
Terapias farmacológicas
Os fármacos directamente utilizáveis em quadros de dor são os analgésicos. Estes podem dividir-se em três grandes grupos: não opiáceos, opiáceos e adjuvantes (fármacos que aliviam a dor em situações específicas, que controlam os efeitos secundários dos analgésicos ou que correspondam a medicação psicotrópica complementar). Os princípios que governam a utilização de analgésicos são:
Boca – a via oral é a privilegiada para os analgésicos incluindo os opióides fortes;
Relógio – os analgésicos são dados com regularidade e de forma profilática;
Escada – utilização da escada proposta pela Organização Mundial de Saúde. Se depois de se optimizar a dose de um fármaco este deixar de produzir analgesia, sobe-se para o degrau seguinte. Subjacente a este modelo de administração de fármacos está o conceito de “analgesia de largo espectro” – os fármacos de cada uma das três categorias analgésicas são usados adequadamente, isolados ou em associação, para maximizar o respectivo efeito.
Tratamento individualizado – a dose correcta é aquela que controla a dor. As doses devem ser gradualmente aumentadas até que a dor seja controlada ou, até que os efeitos secundários não justifiquem o aumento em escalada.
Terapias não farmacológicas
Em termos farmacológicos, por vezes, a dor é controlada através de antidepressivos e opióides, entre outros fármacos. Uma vez que a dor e a depressão co-existem frequentemente, a utilização de antidepressivos visa não só diminuir os sintomas associados à depressão, como também diminuir a dor, pois pensa-se que estes fármacos têm efeitos analgésicos ao actuarem nos substractos bioquímicos comuns às duas perturbações. No entanto, a utilização de antidepressivos, por si só, não ajuda a tratar a dor ou a depressão. Aliás, vários estudos demonstram que para o tratamento da depressão, a combinação entre psicoterapia e fármacos é mais eficaz, principalmente em casos de problemas complexos e elevado risco de recorrência, aumentando a eficácia da intervenção em 10-15%, comparativamente à utilização de medicamentos por si só. Também a utilização de opióides, por exemplo de morfina, acarreta vários efeitos secundários, tais como, depressão respiratória, náusea, sedação e obstipação que, se puderem ser evitados ou diminuídos, aumentam o bem-estar dos pacientes.
Ora, se existem outras formas de intervenção, nomeadamente psicológicas, que podem ser utilizadas nestes casos, prevenindo muitas destas complicações e aumentando a eficácia do tratamento [apenas 50% dos pacientes com dor crónica conseguem reduzi-la através de tratamentos puramente somáticos], porque não utilizá-las, principalmente se sabemos que a dor pode interferir no sono, apetite e na saúde em geral?
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