Estatisticamente 50% das pessoas vão morrer com cancro e 90% morrem com doença prolongada. Para além disso, com o aumento da esperança de vida, as pessoas vão durante mais tempo enfrentar todas as consequências do envelhecimento, antecipando-se o aumento das suas necessidades. Conscientes da urgência de intervenção para o alívio do sofrimento, o Centro de Saúde de Nisa decidiu criar este espaço para que doentes e seus familiares possam colocar questões e partilhar experiências.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Espiritualidade I
Bruera iniciou uma comunicação fazendo a seguinte referência: “não se pode transformar a morte num piquenique”. De facto, o sofrimento que rodeia a morte pode ser mesmo inevitável. Nãos e refere, claro está, ao sofrimento físico que, hoje em dia, com maior ou menor facilidade, se pode controlar ou reduzir. Refere-se sim ao sofrimento espiritual e existencial de uma pessoa, e por vezes mais da família, que não consegue compreender o porquê do “castigo” de morrer com uma doença grave.
É difícil de aceitar a doença não como um castigo mas sim como algo que aconteceu e com a qual temos de aprender a lidar. Essa dificuldade de aceitação leva estas pessoas a, metaforicamente, bater com a cabeça nas paredes, repetindo “porquê eu!”.
Instinto de sobrevivência e tentativa de fuga do desconhecido. O medo de não saber o que se vai encontrar e, o medo de não se ter vivido da melhor forma, uma vida que no final se revela tão curta.
Por vezes a “porta de saída” está logo ali ao lado. Fazemos os pedidos errados. Queremos soluções inexistentes. Queremos viver. Vive-se! Vive-se sempre até ao momento da morte. É o tempo. É o que fazemos com o tempo, seja muito ou pouco, aquilo que realmente conta. Perde-se muito tempo com futilidades e com lutas inglórias, tempo esse que poderia ser aproveitado ao máximo, vivendo o nosso interior e procurando nesse espaço as nossas respostas.
Quando o corpo não responde às nossas vontades é a nossa mente que nos liberta. E as pessoas podem optar por esse caminho. Enriquecer o nosso interior e reconhecer que o mais importante do que os problemas do quotidiano são os afectos, as pessoas e a reflexão individual. O SER e não o TER.
Quando tudo se esgota resta-nos aquilo que dedicada e delicadamente cultivamos ao longo da nossa vida. A morte não é mais do que um culminar de um percurso glorioso, mesmo que com entraves, porque foi nosso e será nosso. Não haverá outra vida igual e por isso teremos de honrá-la e homenageá-la.
A morte pode não ser o fim de tudo. Dependerá sempre da nossa perspectiva e da forma como a encaramos. É no fundo o chegar à meta e por nós próprios descobrir o que está para além dos nossos sentidos.
Por detrás de cada nuvem negra de tormenta existe sempre um radioso céu azul e um grandioso sol.
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